sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Pra gostar de ler... o mundo.

MÁQUINA DE ESCREVER
B D G Z, Reminton.
Pra todas as cartas da gente.
Eco mecânico
De sentimentos rápidos batidos.
Pressa, muita pressa.
…….Duma feita surrupiaram a máquina-de-escrever de meu mano.…….Isso também entra na poesia…….Porque ele não tinha dinheiro pra comprar outra.
Igualdade maquinal,
Amor ódio tristeza…
E os sorrisos da ironia
Pra todas as cartas da gente…
Os malévolos e os presidentes da República
Escrevendo com a mesma letra…
……………..Igualdade
…………..Liberdade………..Fraternité, point.
Unificação de todas as mãos…

Mário de Andrade. Publicação de 1926
Antiga e atual.


Poesia Moderna

JOSÉ
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Joaquim?
e agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais!
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Carlos Drummond de Andrade (In Poesias – 1942)
Esse é um dos poemas mais conhecidos de Carlos Drummond de Andrade“José” aqui é usado como uma metonímia para o próprio autor ou para qualquer ser humano. No entanto, ao usar um nome tão comum aos brasileiros, temos a sensação de ser alguém aqui do nosso meio. Não é à toa que usa metáforas e regionalismos como “bicho-do-mato”, tornando essa poesia ainda mais nacional (realmente uma das riquezas da nossa literatura). Mas é claro que o que se trata aqui é algo bem mais universal.
José se encontra em um momento de sua vida que já não tem mais nada. Por certo já não está mais em sua juventude, por isso “a festa acabou”, já não pode beber, não pode fumar. Além disso, já não tem o apoio e a alegria de uma mulher, não tem familiares para se apoiar (“parede nua para se encostar”), não existe saídas (não há porta). Tudo que ele fez até então, agora não lhe serve mais (seus versos, seus protestos, seus amores e até sua zombaria, citados na primeira estrofe). Tudo que ele possui também não lhe adianta, suas riquezas (sua lavra de ouro), seu conhecimento (sua biblioteca), os momentos que realizou alguma coisa (instantes de febre), os momentos de fartura ou de dificuldade (gula e jejum). Encontra-se vulnerável, frágil, percebido por seu “terno de vidro”. Nem a incoerência ou o ódio lhe servem de alguma coisa.
Este homem, ao se ver nessa situação, se pergunta “e agora?”. Não há mais festa. Não pode voltar para Minas, que aqui traz a ideia de sua terra natal, talvez como uma metáfora para sua própria Infância. E assim, neste momento que se encontra, da mesma forma que não é capaz de voltar para a sua infância também não consegue avançar e abraçar a morte, pois é “duro”.
Essa reflexão de Carlos Drummond me traz à tona a mesma reflexão de Albert Camus em seu ensaio “O mito do Sísifo” (assunto que trarei em outro post em breve). José é o “homem-absurdo” descrito por Camus. O homem que vive e se depara de repente com a “absurdidade”(descrevo o termo como cunhado na obra de Camus) da vida. O ensaio de Camus é toda uma reflexão sobre isso, e traz junto a questão se esse homem deve ou não buscar o suicídio, visto que nada tem um sentido de ser. Mas na poesia, para José, suicídio não é uma opção, pois ele continua marchando (marcha pra onde?).Mesmo sozinho, sem apoio, e sem a existência de fé ou religião, representados aqui pela palavra “teogonia”.
Não tenho dúvida de que não existe ser humano consciente que não chegará até essa pergunta, que se tornou até mesmo um ditado popular no Brasil: “E agora, José?”. E nesse momento, quando a pergunta chegar, alguns poderão responder: a fé. Pois a fé traz a esperança. E a esperança dá um sentido para essa absurdidade. Talvez José não concorde. Provavelmente Camus e muitos outros gênios também não. Mas é claro, isso é ter fé. Isso é a loucura da salvação.
“Tendo sido, pois, justificados pela fétemos pazcom Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.” Rm 5.1-2
Na Primeira Epístola aos Coríntios, no capítulo 13, uns 1900 anos antes de Drummond ou Camus, o apóstolo Paulo já faz uma descrição da absurdidade da vida, sem a fé ou sem possibilidade da vida eterna, veja só:
“Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? E, se não há ressurreição de mortos, então, Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé; e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam. Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram. Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.” 1Co 15.12-19
É meus amigos, se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens. Somos todos “José”.
estatua-drummond
Estátua de Carlos Drummond de Andrade na Praia de Copacabana no Rio de Janeiro.
Fonte: http://cristianismoemmente.com.br/2015/02/04/poesia-e-agora-jose/ 

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Paradoxo

Paradoxo

A dor que abate e funge e nos tortura
Que julgamos às vezes não ter cura
E que o destino nos deu e nos impôs
E tão pequena, já não é dor talvez
Dor já não é

Dividida por dois...

A alegria que as vezes num segundo
Nos dá o desejo de abraçar o mundo
E nos põe triste sem querer depois
Aumenta, cresce e bem maior se faz
Já não é alegria é muito mais
Dividida por dois...

Estranha essa aritmética da vida

Nem parece ciência parece arte
Entendo a dor diminuir se dividida
Não entendo é aumentar nossa alegria
Se essa mesma alegria se reparte.

J.G. Araújo Jorge


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Meus amigos

 Só reconhece o valor da amizade quem de fato sabe ser amigo!


"Meus amigos são todos assim:
metade loucura, outra metade santidade.
Escolho-os não pela pele, mas pela pupila,
que tem brilho questionador e tonalidade inquietante.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero a resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem
o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco.
Louco que senta e espera a chegada da lua cheia.
Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças
e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só ombro ou o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. (...)
(...) Meus amigos são todos assim:metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Pena, não tenho nem de mim mesmo, e risada, só ofereço ao acaso.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos, nem chatos.
Quero-os metade infância metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos,
para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril".
Fernando Pessoa

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

A palavra...




A palavra lavra a alma.


Abre sulcos por onde passa as graças que Deus derrama sobre o mundo. 

Quando comprometida com o bem, a palavra humana se torna divina. 

Proporciona em nós a iluminação necessária para que nossos caminhos sejam mais alegres e felizes. 


Que no nosso caminhar a palavra nos lavre e nos disponha ao crescimento espiritual.    

(Pe. Fábio de Melo)




E você se utiliza da palavra como ferramenta no seu dia-a-dia, no seu trabalho?




sábado, 31 de maio de 2014

Gratidão



“Para ser feliz, você não precisa de grandes conquistas materiais. Você já tem o pôr-do-sol, as estrelas, os pássaros, o sorriso dos seus amigos irmãos.
Agradeça a Deus, pois você tem sua vida. Tem o dia que está começando, 
sua força e determinação. Com todos esses presentes da vida, o resto você constrói...” 




Antes que seja tarde
Com força e com vontade
A felicidade há de se espalhar
Com toda intensidade
Há de molhar o seco
De enxugar os olhos
De iluminar os becos
Antes que seja tarde
Há de assaltar os bares
E retomar as ruas
E visitar os lares
Antes que seja tarde
Há de rasgar as trevas
E abençoar o dia
E de guardar as pedras
Antes que seja tarde
Há de deixar sementes
No mais bendito fruto
Na terra e no ventre
Antes que seja tarde
Há de fazer alarde
E libertar os sonhos
Da nossa mocidade
Antes que seja tarde
Há de mudar os homens
Antes que a chama apague
Antes que a fé se acabe
Antes que seja tarde.



Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.
ONDE VOCÊ VÊ...
Onde você vê um obstáculo,
Alguém vê o término da viagem
E o outro vê uma chance de crescer.
 
Quero tudo novo de novo. Quero não sentir medo. Quero me entregar mais, me jogar mais, amar mais.
Viajar até cansar. Quero sair pelo mundo. Quero fins de semana de praia. Aproveitar os amigos e abraçá-los mais. Quero ver mais filmes e comer mais pipoca, ler mais. Sair mais. Quero um trabalho novo. Quero não me atrasar tanto, nem me preocupar tanto. Quero morar sozinho, quero ter momentos de paz. Quero dançar mais. Comer mais brigadeiro de panela, acordar mais cedo e economizar mais. Sorrir mais, chorar menos e ajudar mais. Pensar mais e pensar menos. Andar mais de bicicleta. Ir mais vezes ao parque. Quero ser feliz, quero sossego, quero outra tatuagem. Quero me olhar mais. Cortar mais os cabelos. Tomar mais sol e mais banho de chuva. Preciso me concentrar mais, delirar mais.
Não quero esperar mais, quero fazer mais, suar mais, cantar mais e mais. Quero conhecer mais pessoas. Quero olhar para frente e só o necessário para trás. Quero olhar nos olhos do que fez sofrer e sorrir e abraçar, sem mágoa. Quero pedir menos desculpas, sentir menos culpa. Quero mais chão, pouco vão e mais bolinhas de sabão. Quero aceitar menos, indagar mais, ousar mais. Experimentar mais. Quero menos “mas”. Quero não sentir tanta saudade. Quero mais e tudo o mais.
“E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
 Fernando Pessoa


“Jamais considere seus estudos como uma obrigação,mas como uma oportunidade invejável para aprender a conhecer a influência libertadora da beleza do reino do espírito, para seu próprio prazer pessoal e para proveito da comunidade à qual seu futuro trabalho pertencer”.Albert Einstein

“O diálogo é o encontro no qual a reflexão e a ação, inseparáveis daqueles que dialogam, orientam-se para o mundo que é preciso transformar e humanizar, este diálogo não pode reduzir-se a depositar idéias em outro”. Paulo Freire


O tempo
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. 
Quando se vê, já são seis horas! 
Quando de vê, já é sexta-feira! 
Quando se vê, já é natal... 
Quando se vê, já terminou o ano... 
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. 
Quando se vê passaram 50 anos! 
Agora é tarde demais para ser reprovado...

Mário Quintana

terça-feira, 22 de janeiro de 2013