segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Paradoxo

Paradoxo

A dor que abate e funge e nos tortura
Que julgamos às vezes não ter cura
E que o destino nos deu e nos impôs
E tão pequena, já não é dor talvez
Dor já não é

Dividida por dois...

A alegria que as vezes num segundo
Nos dá o desejo de abraçar o mundo
E nos põe triste sem querer depois
Aumenta, cresce e bem maior se faz
Já não é alegria é muito mais
Dividida por dois...

Estranha essa aritmética da vida

Nem parece ciência parece arte
Entendo a dor diminuir se dividida
Não entendo é aumentar nossa alegria
Se essa mesma alegria se reparte.

J.G. Araújo Jorge


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Meus amigos

 Só reconhece o valor da amizade quem de fato sabe ser amigo!


"Meus amigos são todos assim:
metade loucura, outra metade santidade.
Escolho-os não pela pele, mas pela pupila,
que tem brilho questionador e tonalidade inquietante.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero a resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem
o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco.
Louco que senta e espera a chegada da lua cheia.
Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças
e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só ombro ou o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. (...)
(...) Meus amigos são todos assim:metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Pena, não tenho nem de mim mesmo, e risada, só ofereço ao acaso.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos, nem chatos.
Quero-os metade infância metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos,
para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril".
Fernando Pessoa