quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

DE ESCRITOR PARA PROFESSOR




EXISTE TAREFA MAIS IMPORTANTE REALIZADA
PELA ESCOLA DO QUE ESTA DE ENSINAR A
LER E ESCREVER?

Havia uma desconfiança: o mundo não terminava onde
os céus e a terra se encontravam. A extensão do meu
olhar não podia determinar a exata dimensão das
coisas. Havia o depois. Havia o lugar do sol se
aninhar enquanto a noite se fazia.
Havia um abrigo para a lua enquanto era dia.

E o meu coração de menino sem afogava em desesperança. Eu que nem era marinheiro nem pássaro – sem barco e asa. Um dia aprendi com Lili as letras e suas somas. E a palavra me mostrou como caminhos poderosos para encurtar distâncias, para alcançar onde só a fantasia suspeitava, para permitir silêncio e diálogo. Com as palavras eu ultrapassava as linhas do horizonte. E o meu coração de menino se afogava em esperança.
Ao virar uma página do livro eu virava uma esquina, escalava uma montanha, transpunha uma maré. Ao passar uma folha eu frequentava o fundo dos oceanos, transpirava em desertos para, em seguida, me fazer hóspede de outros corações. Pela leitura temperei a minha pátria, bebi a minha cidade, enquanto, pacientemente degustei dos meus desejos e limites. Assim o livro passou a ser o meu porto, a minha porta, o meu cais, a minha rota. Pelo livro soube da história e criei os avessos, soube do homem e seus disfarces, soube das várias faces e dos tantos lugares de se olhar. No livro soube do Gêneses e no livro leio novos testamentos do percurso. Ler é aventurar-se pelo universo inteiro.

BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS

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