quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

ESCREVER É PRECISO





Escrevo porque à medida que escrevo vou me entendendo
e entendendo o que quero dizer, entendendo o que posso fazer.
Escrevo porque sinto necessidade de
aprofundar as coisas, de vê-las como realmente são...”

A escrita é um ato difícil. Escritores, compositores, jornalistas, professores e todos os profissionais que têm na escrita um instrumento de trabalho, em geral dizem que “suam a camisa” para redigir seus textos. Mas dizem também que a satisfação do texto pronto vale o esforço de produzi-lo.

Há muitas falsas ideias sobre a escrita.

Há quem pense que os que gostam de escrever têm o dom das palavras, e que para estas as palavras “saem mais fácil”. Não é verdade. Escrever não depende de dom, mas de empenho, dedicação compromisso, seriedade desejo e crença na possibilidade de ter algo a dizer que vale a pena. Escrever é um procedimento e, como tal, depende de exercitação: o talento da escrita nasce da frequência com que ela é experimentada.

Há quem pense que é só os que gostam que devem escrever. Não é verdade. Todos que tem algo a dizer, que tem o que compartilhar, que precisam documentar o que vivem, que querem refletir sobre as coisas da vida e sobre o próprio trabalho.

Aqueles que ensinam a ler e a escrever precisam escrever. Por isso, nós, professores, precisamos escrever: porque temos o que dizer, porque temos o que compartilhar, porque precisamos documentar o que vivemos e refletir sobre isso, e porque ensinamos a escrever – somos profissionais da escrita!

Se a escola não nos ensinou a intimidade com a escrita e o gosto por escrever, só nos resta dar a volta por cima, arregaçar as mangas e assumir os riscos: escrever é preciso!

Luiz Fernando Veríssimo, escritor talentoso, declara-se gigolô das palavras e nos incentiva e aconselha*:

“[...] a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis.

[...] Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: Dizer “escrever claro” não é certo, mas é claro, certo? O importante é comunicar. ( E quando possível surpreender, iluminar, divertir, comover...)

“[...] minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas [...] vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.”

Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical de suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquio ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A gramática precisa apanhar todos os dia para saber “quem é que manda”.

Enquanto eu tiver perguntas
e não houver resposta continuarei a escrever”.
Clarice Lispector

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